Olhavam-se todos, tentando perceber qual seria o mais acabado e o próximo a deixar de existir. Os olhares disfarçados entre cartas, peças de dominó e um e outro cigarro.

Alguns novos acompanhavam os velhos, todos os dias, neste jardim. Não sei se à procura da sabedoria dos aposentados anciãos ou invejando o tempo de sobra de quem nada tem para fazer. Apenas esperar. E morrer.

Ali há de todas as gerações. Desde bebés até quase mortos. A vida misturava-se ali e dava-nos uma previsão da nossa própria história. A mim afligia-me. Pensar na minha velhice. Um lento desenrolar de dias semelhantes ao anterior. Nada para ansiar. O tormento de ter de viver em constante repetição. E, no entanto, ao olhá-los, calma. A velhice é feita disso, de calma. De esperar que os outros concretizem coisas. De jogos inúteis que nos distraiam do tempo de espera. De conversas sobre o clima. Do outro que morreu primeiro que nós. Conversas sobre solidão, nunca. Ou tristeza. Nunca. Nunca sobre nós. Só sobre os outros.